quarta-feira, 15 de abril de 2009

Pedagogia do sequestro

Após quinhentos anos em evidência – não consigo utilizar a linguagem oficial que propõe a descoberta do Brasil, pois, para mim, é negligenciar a existência daqueles que já estavam aqui – o nosso país encontra-se profundamente carente de reformas. De muitas reformas. Mas, a mais urgente e também a principal delas é a reforma do caráter do nosso povo. Isto como ponto de partida, pois paralelamente a esta reforma, segue-se a reforma da educação. Isto com urgência urgentíssima.
O quadro que se nos apresenta no momento, no que diz respeito aos reais resultados da aprendizagem dos nossos alunos, é assaz preocupante. Pois, mesmo fazendo uma análise superficial daquilo que os nossos alunos apresentam na realidade, percebemos que o fazer dos nossos professores está pautado no reprodutivismo acadêmico, fruto de uma prática perniciosa e interesseira das nossas entidades de ensino superior, que só modifica, de fato o patrimônio dos donos do poder. E, obviamente, dos senhores dos engenhos do “conhecimento” – a mente dos estudantes universitários é a cana e o produto dela extraído, para os nossos alunos, é o bagaço-. Assim, no exercício do continuísmo, fabrica-se o educador sem nenhuma consciência da necessidade de uma formação continuada, e, consequentemente da prática da pesquisa. Aliás, a verdadeira pesquisa que norteia o trabalho da grande maioria dos profissionais da educação é a do livro didático e dos manuais “de como fazer”. E, Quando falo de formação continuada, não estou falando da formação institucionalizada, mas da formação produto do engajamento profissional. O resultado, portanto, dessa atitude, é o sequestro da nossa escola. Isto mesmo, temos uma escola refém de um processo educativo centenário, descontextualizado, que sofreu mudanças apenas teóricas, pois o fazer está fundamentado num perpétuo ato cíclico do “foi assim que eu aprendi”.
É extremamente necessário, é urgentíssimo, que as políticas educacionais, neste país, primem pela qualidade, pela honestidade, pelo respeito aos filhos da pátria, aos filhos dos pobres. Não podemos mais conceber, de sã consciência, que continuem degenerando a nossa educação e sequestrando os nossos educandos, tolhendo-lhes o direito de cidadania em nome do lucro e da imbecilização, o verdadeiro projeto educacional da universidade nacional em parceria com as políticas públicas do ensino básico para milhões de brasileiros, potenciais cidadãos, mas de fato, extraterrestres - O nosso povo possui uma consciência distante do seu contexto, distante da sua realidade-.
É preciso que a universidade abandone os projetos baratos. Que abrace a nobre causa da pesquisa, da prática contextualizada, crítica de si mesma. Que abandone o ensino médio de nível superior, que deixe de ser um mero campus avançado da educação básica, para ser uma entidade comprometida com as reais mudanças sociais e comprometida com a garantia da soberania de um povo que, de tão dócil, está se tornando servil.
É preciso que os nossos governantes entendam de povo e dispam-se do discurso falacioso, do discurso que monta os mesmos cavalos a centenas de anos, que deixem as práticas e as intervenções pontuais, pois elas não passam de remendos novos em pano velho. Pois, caso não mudem continuarão perpetuando a ignorância e autenticando o atraso da nossa nação que, em breves dias, tornar-se-á refém daqueles que não entendem nada de humanização. Assim, seremos os filhos da pátria, sem nenhum direito aos frutos do seio da nossa mãe gentil.


Antônio José da Silva.



13/04/09.

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